A fronte é um dos traços faciais que assinalam claramente se uma pessoa é um homem ou uma mulher, em parte porque ocupa una grande superfície no rosto e porque as frontes masculinas são bem diferentes das femininas, embora a maioria das pessoas não leve isto em consideração. A testa feminina que se percebe como agradável é aquela mais parelha e lisa que a masculina. Apresenta em geral uma redondeza continua e, vista de perfil, desenha uma linha vertical. As frontes masculinas, ao contrário, vistas de perfil desenham uma linha oblíqua já que sua parte inferior é avultada projetada para adiante por cima dos olhos. Essa proeminência é maciça onde se formam os rebordos orbitários, mas é oca no meio sobre o nariz, onde se encontram os seios frontais.
A altura e a forma das sobrancelhas também diferem entre homens e mulheres. As sobrancelhas masculinas são em geral retas e baixas, enquanto as femininas são mais arqueadas e se encontram mais altas em relação aos olhos, geralmente por cima do reborde orbitário (orbital rim). A linha dos cabelos forma em geral uma M nos homens, devido às típicas “entradas”, enquanto que nas mulheres desenha um arco continuo e está mais perto das sobrancelhas.
O cirurgião deve remodelar o osso frontal. Para chegar ao osso há duas incisões que são as mais freqüentes: a coronal, de orelha a orelha na parte superior da cabeça, e a pré-pilosa, em torno da região coronal da cabeça. Esta última se utiliza principalmente quando a paciente tem entradas muito pronunciadas sobre suas têmporas (linha do cabelo em forma de M) e precisa de um avanço do couro cabeludo.
Através destas incisões o cirurgião deixa visível o osso frontal para dar-lhe a forma curva e parelha típica das mulheres. Em alguns casos é suficiente desgastar ou “barbear” este osso. Em outros casos é necessário retirar a superfície externa, mudar a forma e colocá-lo de novo. É importante esclarecer que em nenhum caso o cérebro fica exposto, o trabalho se faz na superfície externa do crânio, qualquer que seja a técnica utilizada. Em algumas ocasiões também se utiliza uma pasta cirúrgica a base de hidroxiapatita para emparelhar a superfície e se combina com os procedimentos antes mencionados.
Depois, através da mesma incisão, o cirurgião realiza um lifting das partes moles da testa para colocar de novo as sobrancelhas de acordo com a nova forma do crânio e dar-lhes uma curvatura feminina. Se for necessário se avança a linha do cabelo para localizá-la em uma posição mais baixa que corresponda com o modelo feminino.
O que faz que uma testa seja percebida como masculina ou feminina não é somente a forma, mas também a distância que há entre a superfície do olho e a superfície da parte mais proeminente da testa. Nas mulheres esta distância é em geral de 8 mm, enquanto que nos homens é geralmente maior. Estas fotos mostram exemplos da cirurgia de reconstrução da testa e pertencem a duas pacientes diferentes. Foram tomadas em diferentes etapas da recuperação, de modo que algumas delas mostram ainda algo de inchaço. As linhas amarelas indicam como a distância entre a superfície da testa e a superfície dos olhos foi reduzida e como essa mudança faz com que a percepção da testa mude de masculina a feminina. O que se conhece como “olhar feminino” não é por causa só dos olhos (que são iguais nos homens e nas mulheres), mas pelas diferenças na estrutura óssea que os rodeia.
Para diminuir a projeção de uma testa masculina para ela ficar dentro do modelo feminino, pode utilizar-se vários procedimentos. Os mais comuns são a reconstrução e a fresagem.
Qual é a diferença “fresar” e “reconstruir”? A proeminência da testa é a parede externa de duas cavidades ocas chamadas seios frontais, que se encontram dentro do osso frontal.
Essa parede externa pode ser fresada até quase penetrar nos seios frontais. Este é o limite para a fresagem porque ir além significaria deixar os seios expostos. Esta parede anterior dos seios frontais pode ser delgada ou grossa. Quando é mais delgada que a quantidade de redução que se quer obter (a maioria dos casos) é necessária a “reconstrução” da parede anterior do osso frontal.
A reconstrução (também conhecida como “procedimento tipo 3”) significa extrair a parede externa do osso da testa de modo que os seios frontais fiquem expostos, reduzir através da fresagem toda a superfície ao redor e colocar de novo a “tampa” óssea dos seios, esta vez gerando uma nova superfície da testa que tenha menos proeminência do que antes. Para manter imóvel o enxerto de osso enquanto se solda em seu novo lado, se utilizam peças de titânio especiais como mini-placas muito delgadas (ou malha maleável) e pequenos parafusos. Também se utiliza um substituto ósseo feito à base de hidroxiapatita, que serve para selar qualquer fenda como se for uma “massa corrida”, além de acelerar o processo de cicatrização óssea. É importante destacar que em nenhum momento se acede ao cérebro nem ele fica exposto, já que todo o trabalho se realiza sobre a superfície externa do crânio. Em algumas de nossas pacientes retiramos mais de um centímetro de projeção.
Quando a projeção desta estrutura óssea sobre os olhos é reduzida, os olhos aparecem mais perto da superfície, se percebem melhor e parecem realmente femininos.
Em alguns casos pode existir uma limitação anatômica para o retrocesso da parede anterior dos seios frontais, dada pela posição da parede posterior deles (a parede que separa os seios do cérebro). Se esta parede posterior estiver localizada muito perto da parede anterior (em outras palavras, se a projeção da testa é muito grande e a profundidade dos seios frontais é pouca), então a parede anterior não pode retrair-se muito, dado que não pode ser localizada mais atrás que a parede posterior. Esta situação anatômica não é muito freqüente.
Algumas pacientes não precisam recorrer a uma cirurgia de feminização facial completa para obter um grau de feminização satisfatório. Em alguns casos só uma cirurgia da testa e do nariz pode resultar suficiente. Isto é porque a importância relativa da testa na percepção do gênero facial é muito mais alta do que a importância relativa da parte inferior do rosto, dado que a testa afeta algo crucial: o olhar. É incrível como algo tão abstrato como o olhar pode modificar-se remodelando ossos duros. Uma estrutura óssea masculina ao redor dos olhos dá ao olhar o caráter duro e severo, ainda sombrio dos predadores, provavelmente uma herança dos tempos em que os homens eram caçadores e lutadores, e as mulheres ficavam no lar criando e protegendo aos filhos. A cirurgia de feminização da testa e do nariz dá às pacientes um olhar de mulher. O olhar feminino, tão apreciado pelos poetas românticos, não é feminino por nada que esteja nos olhos em si mesmos (eles são as mesmas bolinhas de carne nos homens e nas mulheres), mas pela forma, a grossura e especialmente a projeção dos ossos que os rodeiam.
A testa é talvez a parte do rosto que menos dor produz durante a recuperação. Durante um tempo ficará insensível, e pouco a pouco recuperará a sensibilidade durante os seguintes 6 meses. Em alguns casos, devido ao inchaço, a localização das sobrancelhas pode parecer alta demais a princípio, mas gradualmente ficarão na posição definitiva.
Alguns hematomas podem aparecer e descer a outras áreas do rosto antes de sumir. Se um avanço da linha do cabelo foi realizado, a cicatriz ficará na frente desta linha. Se você não se incomodar que vejam você com o rosto inchado, você poderá retomar as atividades sociais uma semana após a cirurgia. Mas você deverá esperar até a segunda ou terceira semana antes de fazer trabalhos pesados ou exercícios físicos.
Dormir com a cabeça elevada durante os primeiros dias pode favorecer ao processo de recuperação. Colocar gelo também ajudará muito. Se você quiser se maquiar, poderá fazê-lo ao dia seguinte da cirurgia.
Durante o período de recuperação algumas pessoas podem ficar deprimidas. Isto é normal depois de toda cirurgia, embora mínima. Você pode demorar em aceitar sua nova aparência e mesmo pensar que você fez um grande erro por ter-se operado. Não se preocupe. A maioria das pessoas que hoje se sentem felizes e muito satisfeitas com os resultados obtidos, passaram por essa depressão.
Se a remodelação da testa se faz ao mesmo tempo em que o avanço do couro cabeludo, a cicatriz fica na parte superior da testa e coincide com a linha do crescimento do cabelo para passar inadvertida. Gradualmente ficará cor rosa pálida durante os primeiros 6 meses e finalmente, ao cabo de aproximadamente um ano, tomará a cor do resto da pele e ficará muito difícil de detectar visualmente. Se não for necessário avançar o couro cabeludo a cicatriz ficará escondida debaixo dos cabelos.
Todo procedimento cirúrgico, embora mínimo, apresenta riscos, e temos que levá-los em consideração. No entanto, em mãos de um cirurgião qualificado é pouco provável que uma feminização da testa apresente complicações.